terça-feira, 12 de julho de 2016

Barcos nunca mais

Mariana Félix

Eu corria, corria muito, bastante! Só não sabia de que eu estava correndo. Aí parei pra pensar: tava correndo de mim mesma, dos meus fantasmas internos que moram na minha cabeça. Algumas pessoas chamam de medo, eu particularmente, chamo de fantasmas.
Fico trancada, toda cheia de muros ao meu redor quando a questão é me relacionar com alguém.
Aí chega uma pessoa, fica um pouquinho, depois sai. Parece que vem só pra marcar sua vida, e ver o quanto as vezes eu sou otária.
Sabe como acaba isso?
Eu com raiva de mim mesma, me entupindo todinha de doces, ouvindo músicas tristes, lembrando que poderia evitar isso tudo. Mas aí o bom, é que me fortalece mais ainda. Agora meu muro ta completo, pra chegar até mim tem que passar pelos jacarés que coloquei no riozinho que ronda meu coração.
Num dia desses que eu estava correndo, sem querer me esbarrei num moço bonito, alto, moreno, com os olhinhos bem puxados, com o cabelo escuro. Fique tipo uns dez minutos olhando pra ele, até que o alarme de lerdeza apitou:
"PEEEEEEEEM"
Hora de tentar voltar ser uma pessoa sã.
Ele perguntou o meu nome, eu perguntei dele, e por aí foi seguindo...
Conversa vai, conversa vem, ele estava conseguindo chegar perto, tinha até um barquinhi pra passar pelo rio dos jacarés.
Sabe o que aconteceu? Ele passou. Passou direto.
"Missão concluída com sucesso".
O tempo foi passando, e eu me apaixonando mais e mais.
Parecia tudo tão maravilhosamente bem, até o dia que ele me disse que talvez tivesse que ir embora.
Eu confesso que o que senti na hora, eu jamais havia sentido na vida.
Parecia aqueles sonhos que a gente tem, que em um minuto ta num lugar, e depois aparece em outro, completamente diferente.
Era mais ou menos assim:
Estava eu, num jardim todo florido, com um céu bem azul, um arco-íris lindo, bichos por toda parte, depois me vejo num lugar trevoso, escuro, sozinha. Era tipo assim.
Aí lá vem trabalho, construir todos os muros novamente, botar novos jacarés, e por fim, lembrar de não deixar nenhum barco disponível. Para ninguém. Nem pra mim mesma. Talvez eu queria ficar presa, sozinha, apenas com meus fantasmas. 

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